O Encontro Geral do UNO reúne as(os) ecoeducadoras(es) voluntárias(os) que estão atuando nos serviços de acolhimento com grupos do Programa 'Quero Saber…'. Este evento anual é um dos elementos que compõem a Tecnologia Social desenvolvida pelo UNO e reconhecida pela Fundação Banco do Brasil, que tem como objetivo a construção coletiva de conhecimento e a formação continuada das(os) ecoeducadoras(es). A experiência e a troca de descobertas, anseios e sentimentos são elementos fundamentais para nos organizarmos como uma comunidade de práticas.
Na estrutura de atuação desenvolvida pelo UNO, uma dupla de ecoeducadoras(es) trabalha com grupos de até 5 crianças e/ou adolescentes, pois essa proporção permite criar vínculos afetivos que conduzem os jovens no seu desenvolvimento dentro dos projetos 'Quero Saber…', 'Quero Saber… Mais' e 'Quero Saber… Valor'. No entanto, esse não é um processo simples e linear. As(os) voluntárias(os) expuseram no Encontro Geral alguns desafios com os quais se depararam:
Os jovens têm idades que variam entre 7 e 17 anos, o que demonstra diferentes níveis de desenvolvimento e de fase de vida, e, na maioria dos casos, os grupos têm crianças e adolescentes em diferentes níveis de alfabetização;
A premissa do Programa “Quero Saber…” é que crianças e adolescentes demonstrem aquilo que desejam estudar, mas isso nem sempre é fácil em um grupo com interesses diversos;
Existem problemas de relacionamento entre os jovens que tornam a atuação das(os) ecoeducadoras(es) mais desafiadora;
O trabalho das(os) ecoeducadoras(es) acaba "competindo" com outros , a começar pelas tecnologias como celular, computador e televisão. Além disso, as crianças e adolescentes que não fazem parte do programa 'Quero Saber…' podem tirar a atenção das que estão, além de dispersões diversas, como brinquedos, músicas, futebol…;
Por fim, a maior parte desses jovens já traz uma resistência em ler e escrever que pode trazer um grau de dificuldade a mais para as(os) ecoeducadoras(es)
Diante desses desafios e seguindo um dos pilares do trabalho do UNO, que é transformar dificuldades em força de ação, as duplas de ecoeducadoras(es) apresentaram atividades de sucesso que puderam inspirar outra(os) voluntárias(os). Além de enriquecedora, essa dinâmica é também uma forma de colocar em prática parte da técnica e dos princípios balizadores do UNO, apresentados no Curso de Formação, tais como "enxergar cada criança e adolescente como único", "construir uma relação de confiança para que seja um terreno fértil para que a aprendizagem aconteça" e "a escuta ativa e atenção ao querer saber". Dessa forma, mesmo diante de um cenário cheio de desafios, a educação na qual acreditamos e que praticamos possibilita que eles sejam superados.
Dentre diversas atividades apresentadas que conseguiram transpor todos esses desafios, a dupla Isabela e Priscila compartilhou sua experiência na cozinha, intitulada "Biscoito da Alegria". Os olhares atentos e curiosos dos participantes do programa ao verem os ingredientes dispostos em cima da mesa facilitou a atividade de lerem a lista de tudo que ia na receita, para, então, escreverem o modo de preparo dos biscoitos. A dupla de voluntárias identificou algumas palavras no 'Modo de Preparo' que as crianças demonstraram ter maior dificuldade para escrever. Por isso, fizeram um cartaz, onde elas tinham que reordenar letrinhas já cortadas para formarem essas palavras. Os jovens, então, colocaram a mão na massa e adoraram a bagunça e experiência de fazer os biscoitos, cortá-los e decorá-los.
Por fim, todos leram a receita, as voluntárias gravaram a voz deles e o UNO compartilhou em suas redes sociais. Dessa forma, muitas outras crianças (e adultos, também) podem fazer biscoitos em casa. Além de propor a leitura e a escrita aos participantes do programa, essa atividade também os incentivou a desenvolver habilidades como protagonismo, autonomia, organização, coragem de ultrapassar limites, ampliação de vocabulário, foco, atenção e reconhecimento de unidades de medida.
Ao criar situações reais para o uso do conhecimento, os Biscoitos da Alegria também deram aos participantes uma função social para a escrita, para a leitura e para a matemática. São em momentos como esse que a relação das crianças com o aprendizado se ressignifica para se aproximar de sentimentos como prazer, satisfação e felicidade.
O mais interessante de todo o Encontro Geral, além das histórias incríveis que cada dupla trouxe, foi compreender que o valor do Programa “Quero Saber…” está tanto naquilo que as crianças e adolescentes aprendem, quanto nas vivências e trocas dos voluntários, que relatam um desenvolvimento pessoal admirável.
Os desafios podem existir, mas o que faz deles algo enriquecedor é a habilidade em compartilhá-los para elaborar, em conjunto, soluções gostosas como um biscoito.
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Foi muito emocionante ver tantas atividades de sucesso juntas! Com isso, mais uma vez ficou claro que tirar uma criança com defasagem escolar do lugar de 'quem não aprende' e levá-la a se ver como 'aquela que tem potencial' não é algo fácil de se fazer. Mas, com certeza, é possível!