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  • Thaís Jorge

Você já imaginou como deve ser viver neste mundo letrado sem saber ler e escrever?

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), considerando a população de 15 anos ou mais, o Brasil tem 11 milhões de analfabetos.

Se olharmos para um recorte específico da população — adolescentes e crianças em situação de acolhimento e com defasagem na leitura e na escrita — vemos que essa condição gera consequências ainda mais graves. E isso exige atenção e atitude urgentes.



Em muitos casos, durante o período de acolhimento, essas crianças e adolescentes não acompanham o ritmo escolar e ficam para trás, desestimulados e se sentindo incapazes de aprender. As dificuldades em se alfabetizar e a insegurança interior só crescem enquanto a autoestima vai gradualmente desabando. Além disso, uma vida de incertezas constantes afeta profundamente a capacidade cognitiva e agrava todo o quadro.


Mas a maior ameaça aparece quando os adolescentes nessas condições se aproximam do momento do desacolhimento, quando completam 18 anos. Precisando trabalhar, encontram no subemprego ou na ilegalidade as opções possíveis para conquistarem sua autonomia e se sustentarem.


As crianças e adolescentes em situação de acolhimento

O acolhimento é uma medida de proteção para crianças e adolescentes que estão temporária ou definitivamente afastados de suas famílias, por casos de negligência, abandono ou cujos responsáveis, por algum motivo, estejam impossibilitados de cumprir sua função de amparo e cuidado. Atualmente, de acordo com o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, há cerca de 29 mil crianças e adolescentes nos Serviços de Acolhimento do Brasil, o que significa que se encontram provisoriamente sob tutela do Estado, morando em uma dessas modalidades de acolhimento: Abrigos Institucionais, Casas Lares ou Famílias Acolhedoras. Se considerarmos o estado de São Paulo, esse número passa para cerca de 8 mil. Uma vez acolhidos, a prioridade é que esses meninos e meninas possam retornar às suas famílias de origem ou extensa, mas quando isso não se concretiza, a adoção passa a ser uma possibilidade. Ao atingirem a maioridade, se nenhuma das opções se concretizar, precisarão deixar o Serviço de Acolhimento.


Os projetos do Instituto UNO nasceram para atender uma demanda específica deste recorte da população: a educação.


Nossa experiência de mais de dez anos atuando nos Abrigos Institucionais e Casas Lares, nos mostra que crianças e adolescentes em situação de acolhimento têm uma condição particular, que as difere daqueles em vulnerabilidade social, mas que moram com famílias: a dificuldade em enfrentar seus desafios educacionais e, sobretudo o analfabetismo total ou funcional, é potencializada pelos inconstantes estados psicoemocionais em suas vidas, provocados por incertezas com relação ao futuro. Vivem um cotidiano que envolve diversas possibilidades: retorno para as famílias, pretendentes à adoção (incluindo possibilidade de desistências), o entendimento de que ficarão acolhidos até atingirem a maioridade e o rompimento dos vínculos com seus pares, cada vez que acontece um desacolhimento.



Tudo isso dá origem à maioria dos bloqueios de aprendizagem. O interesse por aprender diminui gradativamente, a autoconfiança se esvai lentamente, passam a se achar incapazes e, muitas vezes, ficam traumatizados com o mundo escolar e do conhecimento. A médio prazo, a defasagem pode impactar negativamente na inclusão de adolescentes a partir de 15 anos no mercado de trabalho — algo essencial no projeto de seu ‘desacolhimento’ aos 18 anos. Todo o trabalho da rede de proteção para lhes garantir um futuro melhor pode não dar frutos se não tratarmos essas questões básicas a tempo. Retomar o caminho da educação é urgente!


Voluntariado No Instituto UNO, para assegurar a efetividade do Programa “Quero Saber...” e seus resultados, criamos uma tecnologia social reconhecida pela Fundação Banco do Brasil que pode ser replicada por qualquer organização do país. Dentro dela contemplamos a formação de nossos próprios educadores voluntários em uma metodologia exclusiva que os prepara para os desafios de uma atuação de longo prazo e exige determinação, perseverança e comprometimento.



Já formamos mais de 170 educadores voluntários e atendemos cerca de 300 crianças e adolescentes de 28 serviços de acolhimento.


O “Quero Saber…”

Em 2010 criamos o “Quero Saber…”, um programa especializado na educação dessas crianças e adolescentes com alto grau de dificuldade e defasagem escolar para tratar o problema em sua origem: a alfabetização. Atualmente, nossos projetos também contemplam outras áreas essenciais do saber — letramento e educação financeira e comportamental — sendo realizados em parceria com Abrigos Institucionais e Casas Lares na cidade de São Paulo.



Acreditando na valorização do potencial de cada indivíduo como base de sua transformação pessoal, promovemos uma educação não tradicional baseada no afeto, na escuta, na compreensão e em princípios absolutos. Proporcionamos experiências de aprendizagem significativas e contextualizadas, a partir daquilo que eles querem saber. Não dispomos de cartilhas ou materiais prontos. Se a criança, por exemplo, manifesta interesse sobre o tema skate e ainda não sabe ler e escrever, mesmo tendo passado da idade considerada ideal, os ecoeducadores do “Quero Saber…” vão criar atividades baseadas nesse universo e que a ajudem a superar os desafios relacionados ao seu processo de alfabetização.


Mantemos a relação de 1 educador para até 2,5 educandos, no máximo, formando grupos de até 5 crianças ou adolescentes. O projeto acontece nos SAICAs parceiros, semanalmente e por um período mínimo de um ano, com ecoeducadores voluntários formados pelo UNO em um Curso de Formação de 57 horas. É supervisionado por uma Equipe Pedagógica de profissionais que trazem diferentes competências, virtudes, sentidos e experiências e compartilham dos mesmos valores e crenças essenciais que formam os pilares desse movimento.


Enxergamos o processo de educar como uma relação de amor e o caminho ideal para que toda criança e adolescente consiga se projetar no mundo com mais segurança. A partir da relação construída com os ecoeducadores, vivenciam experiências de conexão com seus potenciais de desenvolvimento e resgate da vontade de aprender, retomando a consciência da importância do conhecimento em seu projeto de vida (da escola para os menores à autonomia financeira para os maiores) e, assim, por meio da educação, terão mais condições de buscar oportunidades de vida.


 

Caminho do Saber:

1. Ampliar a consciência e confiança que cada criança/adolescente tem sobre si e sobre seus potenciais de desenvolvimento;

2. Resgatar a sua vontade de 'querer saber', a sua curiosidade e a consciência da importância do conhecimento em seu projeto de Vida;

3. Contribuir para que cada criança/adolescente avance na aprendizagem, diminuindo sua defasagem em áreas essenciais do saber.


 

Acreditamos em nossos projetos como uma ação necessária e urgente pela condição do público para o qual nos dedicamos, não só em sua relação com a educação, mas, principalmente, pelas graves consequências que dela decorrem. Promovemos atividades que possibilitem o reencontro da criança e do adolescente consigo mesmos e com sua relação com o saber, interrompendo traumas sequenciais e o estímulo à reprodução do ciclo de violência e exclusão social do qual foram vítimas.



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