Em meio a uma pandemia, escolas fechadas e ensino remoto, o Brasil registrou piora no aprendizado de estudantes e a alfabetização foi a etapa que sofreu o maior impacto. Os resultados são do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2021 e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2021, realizados e divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O Saeb, realizado desde 1990 pelo Inep, é uma avaliação em larga escala, cujo mapeamento pode ajudar a balizar a elaboração, o monitoramento e o aprimoramento de políticas educacionais. Por meio de testes e questionários, o Saeb reflete os níveis de aprendizagem demonstrados pelo conjunto de estudantes que participam.
Nesta edição, participaram do Saeb mais de 72 mil escolas públicas e privadas de todos os estados, totalizando aproximadamente 5,3 milhões de estudantes avaliados. O questionário foi estruturado para manter a comparabilidade com anos anteriores, mas um novo formulário foi adicionado à avaliação para coletar informações sobre as estratégias adotadas pelas escolas durante a pandemia. A COVID-19 impôs um contexto educacional atípico, que, para além do período de suspensão das atividades de ensino, levou boa parte das escolas a reverem seus currículos e critérios.
A pesquisa mostrou que 92% das escolas de educação básica adotaram estratégias de ensino remoto ou híbrido e que 72,3% das escolas recorreram à reorganização curricular para priorizar habilidades e conteúdos. Ou seja, os estudantes do país, mesmo cursando o mesmo ano escolar, não aprenderam necessariamente os mesmos conteúdos e, por isso, não é possível saber se tinham ou não aprendido o que foi cobrado no momento da avaliação. O objetivo dessa manobra era evitar o aumento da reprovação e do abandono escolar, que acabaria impondo uma nova penalidade aos estudantes para além da própria pandemia.
Os resultados de aprendizagem apurados pelo Saeb, juntamente com as taxas de aprovação aferidas no Censo Escolar, compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), utilizado para monitorar o desempenho das escolas e das redes de ensino. Assim como o Saeb, o cálculo do indicador seguiu a mesma metodologia de anos anteriores, mas considerou a pandemia como um fator imprescindível para suas interpretações.
Um dos impactos importantes já identificados nas duas últimas edições do Censo Escolar foi o crescimento das taxas de aprovação da rede pública entre 2020 e 2021, quando comparadas com o período pré-pandemia. A tabela abaixo nos indica esses percentuais.
No ensino fundamental dessa rede, o percentual de aprovados passou de 91,7%, em 2019, para 98,4%, no primeiro ano da pandemia (2020). Em 2021, a taxa caiu para 96,3% (ainda 4,6 pontos percentuais acima do registrado em 2019). Já no ensino médio público, a aprovação passou de 84,7%, em 2019, para 94,4% em 2020. O percentual foi reduzido para 89,8% em 2021.
Os resultados apresentados pelo Ideb deste ano são especiais porque, quando o índice foi criado, foi definida como meta que a média do Brasil nos anos iniciais do ensino fundamental saísse de 3,8, em 2005, para o patamar de 6,0 em 2021, considerado pelo Inep correspondente a um nível de qualidade “comparável ao dos países desenvolvidos”. A média geral, no entanto, passou de 5,9 em 2019 para 5,8 em 2021, não atingindo a meta determinada.
Os números gerais mostraram pouca variação, em parte devido aos desafios de computar aprovação e notas durante a pandemia, mas a proficiência em testes de português e matemática, incluindo na alfabetização, evidenciam queda já esperada em relação aos anos anteriores.
Dentro de uma escala de pontuação em língua portuguesa, destaca-se a porcentagem de estudantes do 2º ano do ensino fundamental que não conseguem sequer ler palavras isoladas, que passou de 15,5% em 2019 para 33,8% em 2021. Clara Machado, coordenadora-geral do Saeb, explica que o resultado era esperado, uma vez que, na fase de alfabetização, é importante um acompanhamento mais próximo do que foi praticado na pandemia.
No 9º ano, quatro a cada dez alunos estão nos três primeiros níveis de aprendizagem em língua portuguesa, essa porcentagem passou de 40,8% em 2019 para 42,4% em 2021. Cerca de 15% dos alunos estão abaixo do nível 1, com habilidades mais básicas do que o sistema consegue aferir.
Já em matemática, a porcentagem dos estudantes que não são capazes de resolver problemas de adição ou subtração passou de 15,9% em 2019 para 22,4% em 2021, além de contabilizar uma queda na média geral de 11 pontos em relação a 2019.
No ensino médio, no último ano escolar, a média da proficiência passou de 278 pontos em língua portuguesa em 2019 para 275 pontos em 2021. A pontuação coloca o Brasil no nível 3 de aprendizagem, em uma escala que vai até o nível 8. Isso significa que os alunos, em geral, não sabem, por exemplo, identificar a finalidade e a informação principal em notícias – habilidade do nível 4 de proficiência. Em matemática, a média de pontuação no ensino médio passou de 277 para 270 entre 2019 e 2020, o que posiciona o país no nível 2 de 10 níveis.
Em dados gerais, os resultados mostram uma piora em todas as etapas do ensino, mas, segundo Rubens Campos de Lacerda Júnior, diretor substituto de Avaliação da Educação Básica (Daeb), “o nosso instrumento de medida utilizou os mesmos constructos das outras edições, o que significa que, do ponto de vista pedagógico, estatístico, técnico, essa comparabilidade é possível. Mas nós precisamos focar agora nesse contexto da pandemia que foi vivenciado em 2020 e em 2021. O que significa que qualquer comparação precisa ser cautelosa, cuidadosa, com interpretação profunda dos dados.".
A diferença de desempenho entre o ensino público e privado foi outro importante resultado do Ideb. Conforme pode-se ver na tabela abaixo, nos anos iniciais do ensino fundamental, a média obtida por escolas públicas em 2021 foi 5,5, enquanto a das escolas particulares foi 7,0. Nos anos finais do ensino fundamental, essa diferença é de 4,9 para as públicas e 6,3 para as privadas e no ensino médio, de 3,9 e 5,8, respectivamente.
A educação, principalmente para as crianças e adolescentes que vivem em condições mais vulneráveis, é uma importante ferramenta que abre caminhos para um futuro melhor. Este é o norte do trabalho do Instituto UNO, que visa envolver os participantes do Programa "Quero Saber…" em um processo de aprendizagem que faça sentido a eles e, mais que isso, que promova uma autonomia de querer saber.
Em todos os nossos grupos do "Quero Saber…" encontramos jovens que exemplificam as estatísticas obtidas pelo Ideb, seja os que não sabem ler palavras em idade que já deveriam estar alfabetizados, aqueles que conseguem ler e escrever, mas que expressam dificuldades em compreender o sentido do texto, ou os que não tem afinidade com as operações matemáticas.
Nosso trabalho busca maximizar o potencial dessas crianças e adolescentes para que possam sair de um ciclo desestimulante. Por esse motivo, te convidamos a nos ajudar financeiramente, para que possamos continuar atuando de maneira positiva e contribuindo para o desenvolvimento deles. Venha e una-se à gente!
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